Quando a rainha Victoria da Inglaterra se casou em 1840, é muito provável que ela não soubesse que estava inaugurando uma tradição nos casamentos do Ocidente.

A Rainha Victoria não foi a primeira noiva nobre a usar branco. O branco era uma cor restrita ao meio da nobreza, porque era difícil de ser obtido. Antes, já Mary Stuart usou um vestido de noiva branco, mas foi com a rainha Vitória que o vestido branco para noivas se popularizou e conquistou a sociedade ocidental.

Antes de falarmos das tradições, é preciso falar do amor. Amor pelo seu amado príncipe Albert e amor pelo povo do Reino Unido.

Victoria assumiu o trono britânico com apenas 18 anos de idade e aquele que se tornaria seu companheiro ainda era uma incógnita. 

A sua família e o governo queriam que ela se casasse com o príncipe Ernst, que era seu primo, mas ela se apaixonou pelo irmão caçula (irmão mais novo) de Ernst, Albert.

Foi ela a 15 de Outubro de 1839 que pediu Albert em casamento, abrindo um novo paradigma no mundo moderno.

“O casamento entre Victoria e Albert é um dos maiores romances da história moderna. Foi genuíno, devotado e fecundo. Juntos, foram os arautos de uma era em que a monarquia passou do poder direto para a influência indireta, de fruto da aristocracia para símbolo da classe média. Eles restauraram e elevaram a estatura da monarquia, preservando-a das revoluções que derrubaram as famílias reais e aristocráticas na Europa nos mesmos anos que Victoria e Albert eram amplamente festejados na Grã-Bretanha” (2018, p. 156).” Júlia Baird

Não era normal as noivas usarem branco no casamento. Na verdade, elas escolhiam modelos de acordo com o que era adequado para a época.  Cores mais vivas, como azul, rosa ou verde estavam entre os tons mais usados pelas noivas.

 Ela não quis usar as cores comuns da época e exigiu que o vestido de seu casamento fosse branco. Acredita-se que a família real estranhou essa decisão, já que o comum era que os vestidos das noivas tivessem mais cor. 

A escolha de Victoria pelo branco foi para destacar a delicadeza da renda escolhida para o vestido. O vestido branco da Rainha Victoria era um atestado da prosperidade econômica da Inglaterra. Victoria chegava ao casamento não como uma princesa, mas como uma Rainha coroada, e à frente da nação mais poderosa do mundo. Além de riqueza, ela precisava demonstrar seu comprometimento com o povo e com o reino e isso foi feito através da escolha da renda do seu vestido.

O design da renda foi criado por William Dyce, chefe da ancestral Royal College of Art, e executado como uma renda do tipo Honiton – um tipo de renda de bilro característico da Inglaterra, que na época já estava sendo fabricada industrialmente. Muito cara, e totalmente fora de moda: na época do casamento, a febre na Europa eram as rendas feitas em Bruxelas. Ao escolher uma renda de fabricação inglesa, a Rainha Vitória afirmava publicamente um compromisso com a crescente indústria britânica. A consequência mais imediata foi uma revalorização da renda Honiton na Inglaterra e fora dela, dando um novo fôlego às pequenas indústrias que até então não conseguiam competir com a rendas importadas. Infelizmente, a saia de renda do vestido se perdeu ou foi reciclada em outros trajes.

O design do vestido foi assinado e executado pelo atelier de Mary Bettans, a modista que mais tempo ficou a serviço da Rainha.

Diz-se que depois de pronto, o desenho do vestido foi destruído, para que pudesse ser copiado por ninguém.

Às 8h45 da manhã de 10 de fevereiro de 1840 ela começou a ser preparada por suas damas. O vestido de cetim branco, com folhos de renda e uma cauda de seis metros com orla enfeitada com flores de laranjeira foi cuidadosamente abotoado no seu corpo; nas orelhas, brincos de diamante turco, um colar no pescoço e no peito um broche de safira que ganhara do príncipe Albert. A rainha ficou com os pés estendidos para que as fitas de seda dos seus delicados sapatos de cetim branco fossem amarradas nos seus tornozelos; na cabeça, uma grinalda simples de murta e flores de laranjeira.

BRANCO SÓ PARA A NOIVA

A rainha pedira que, afora as damas de honra, ninguém mais usasse branco na cerimônia. Alguns interpretaram erroneamente a escolha da cor, como sinal de pureza virginal – como disse mais tarde Agnes [Strickland] numa efusão sentimental, ela escolhera se vestir “não como rainha em trajes deslumbrantes, mas de branco imaculado, como uma virgem pura, para o encontro do noivo. Vitória escolhera usar branco basicamente porque era a cor ideal para ressaltar a delicadeza do rendado – na época, não era uma cor convencional para as noivas. Antes de se dominarem as técnicas de alvejamento, o branco era uma cor rara e cara, mais símbolo de riqueza do que de pureza. Victoria não era a primeira a usá-lo, mas o seu exemplo deu popularidade à cor. Tecelões rendeiros de toda a Inglaterra ficaram entusiasmados com o súbito aumento na procura de seus trabalhos (BAIRD, 2018, p. 150). Júlia Baird

Além de lançar novos costumes, ela quebrou hábitos antigos. A tradição era de que monarcas se casassem com coroas de joias, mas ela optou por uma coroa feita de flores de laranjeira e murta, deixando as pedras preciosas e o ouro para seus brincos e broche. 

Outra peça que fazia parte do vestido original e chegou até nossos dias foram os sapatos feitos sob medida para o casamento:

No aniversário de 7 anos do seu casamento, ela encomendou um retrato ao pintor Franz Xavier Winterhalter, usando o vestido de noiva, para presentear o Príncipe Albert:

Assim que a fotografia chegou à Inglaterra, passados 14 anos depois do casamento, a Rainha encenou uma foto de casamento com o Príncipe Albert:

Os detalhes do casamento de Victoria e Albert foram tão difundidos pelos quatro cantos do mundo, por meio de propagandas e campanhas publicitárias, que o branco acabou virando tendência no vestido das noivas, para representar sua virtude e pureza, muito embora Victoria o tivesse escolhido para destacar a delicadeza do rendado de seu vestido.

As classes mais ricas buscaram se inspirar no casamento real para planejar as suas próprias núpcias, solidificando assim um modelo, que ditava desde a roupa dos noivos, até o estilo dos convites formais, a entrada processional, as flores e música. Assim, empresas especializadas da área foram surgindo, para alimentar essa nova tendência, vendendo acessórios de decoração. Como as mulheres da classe média tentavam criar uma impressão de posição social incorporando o estilo de vida da classe rica, então o vestido branco acabou por ganhar a adesão até mesmo dos extratos mais baixos da sociedade, que viam nesse tipo de cerimônia uma oportunidade única de viver um momento de conto de fadas. Tradição essa que se mantém ativa até os dias de hoje.